CONCEITOS DE GENÉTICA E A DISTROFIA MUSCULAR DE DUCHENNE1,5

A distrofia muscular de Duchenne (DMD) é uma doença genética, ou seja, ela é causada por uma mutação em um dos genes do nosso material genético. Assim, para entender melhor a DMD precisamos falar sobre alguns conceitos básicos da genética. A informação genética do ser humano está contida no DNA, uma molécula complexa que está presente em praticamente todas as células do nosso corpo. O DNA de cada um de nós é formado a partir do DNA dos nossos pais. Exatamente por isso, dizemos que nossas informações genéticas e características físicas são herdadas do nosso pai e da nossa mãe. O DNA é dividido em partes chamadas de genes. Por sua vez, cada gene é dividido em pequenos bloquinhos conhecidos como éxons, intercalados por regiões chamadas de íntrons. Os genes contêm a “receita” para a produção das proteínas, que são os “tijolos” que compõem a estrutura de nossos órgãos e tecidos (pele, ossos, músculos etc.). Durante o processo de fabricação das proteínas, os íntrons são removidos e os éxons são agrupados em série, formando a molécula de RNA mensageiro (RNAm). Esta molécula é então transportada para a fábrica onde a “receita” finalmente é lida e as proteínas são produzidas no citoplasma das células do nosso corpo.
Processo de produção da proteína

Figura adaptada de: Martinez ARM, Carvalho EHT, França MC Jr. Novos tratamentos em neurogenética: Nucleotídeos sintéticos, Terapia gênica e Edição genômica. In: Neurogenética na prática clínica, 1ª edição, Atheneu, 2018.

A genética da DISTROFIA MUSCULAR DE DUCHENNE 2,3,4,6,7,8

O gene relacionado com a distrofia muscular de Duchenne chama-se DMD e é responsável pela produção da proteína distrofina. Ele se localiza no braço curto do cromossomo X.

Gene DMD, relacionado com a distrofia muscular de Duchenne.

Figura adaptada de: National Center for Biotechnology Information, U.S. National Library of Medicine – NCBI’s Genome Decoration Page.

O gene DMD é um dos maiores genes humanos, e contém 79 éxons, conforme ilustrado na imagem abaixo:

Representação dos éxons presentes no gene DMD.

Figura adaptada de: Muntoni F, Torelli S, Ferlini A. Dystrophin and mutations: one gene, several proteins, multiple phenotypes. Lancet Neurol 2003;2(12):731-40.

Diversos tipos de alteração no gene DMD podem levar à distrofia muscular de Duchenne. Na maioria dos pacientes, há uma grande deleção dentro do gene, isto é, um ou mais éxons estão faltando. Neste caso, a “receita” não consegue ser lida e a proteína não é produzida. Outros tipos de mutação encontrados são:

  • Grandes duplicações – um ou mais éxons do gene DMD estão duplicados.
  • Pequenas mutações ou mutações de ponto – Aqui não há deleções ou duplicações de éxons. Ocorrem, na verdade, pequenas alterações na estrutura de um dos éxons, mas que interferem na leitura da “sequência de informações” necessária para produzir a distrofina. Existem vários subtipos de mutações de ponto. O mais comum é a chamada mutação sem sentido, que interfere em estágios precoces do processo de produção da proteína.

Figura adaptada de: de Almeida PAD, et al. Genetic profile of Brazilian patients with dystrophinopathies. Clin Genet 2017;92(2):199-203.

REFERÊNCIAS​

1 Martinez ARM, Carvalho EHT, França MC Jr. Novos tratamentos em neurogenética: Nucleotídeos sintéticos, Terapia gênica e Edição genômica. In: Neurogenética na prática clínica, 1ª edição, Atheneu, 2018.

2 National Center for Biotechnology Information, U.S National Library of Medicine – NCBI’s Genome Decoration Page.

3 Muntoni F, Torelli S, Ferlini A. Dystrophin and mutations: one gene, several proteins, mulltiple phenotypes. Lancet Neurol 2003;2(12): 731-40.

4 de Almeida PAD, et al. Genetic profile of Brazilian patients with dystrophinopathies. Clin Genet 2017;92(2):199-203.

5 Figura adaptada de: Martinez ARM, Carvalho EHT, França MC Jr. Novos tratamentos em neurogenética: Nucleotídeos sintéticos, Terapia gênica e Edição genômica. In: Neurogenética na prática clínica, 1ª edição, Atheneu, 2018.

6 Figura adaptada de: National Center for Biotechnology Information, U.S. National Library of Medicine – NCBI’s Genome Decoration Page.

7 Figura adaptada de: Muntoni F, Torelli S, Ferlini A. Dystrophin and mutations: one gene, several proteins, multiple phenotypes. Lancet Neurol 2003;2(12):731-40.

8 Figura adaptada de: de Almeida PAD, et al. Genetic profile of Brazilian patients with dystrophinopathies. Clin Genet 2017;92(2):199-203.

Conteúdo elaborado pelo
Prof. Dr. Marcondes C. França Jr.
CRM-SP 102.490
Departamento de Neurologia da Faculdade de Ciências Médicas da
Universidade Estadual de Campinas (FCM – Unicamp)
Data: agosto/2020